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Novas Histórias Da Velha Lapa
5/17/20252 min read


NOVAS HISTÓRIAS DA VELHA LAPA é um livro de crônicas, quase todas baseadas em histórias reais, vividas e colhidas há quase duas décadas, quando iniciei meu ofício de escritor de partituras musicais, sentado em um banquinho, numa calçada em frente ao setor de registro autoral da UFRJ no bairro da Lapa, centro boêmio do Rio de Janeiro. Acompanhei as transições sofridas pela indústria da cultura. Da independência dos artistas à sua interdependência através da eclosão da internet. Hoje, apesar de vivermos a era da informação, uma questão ainda se mostra pertinente: “Como dar visibilidade aos artistas invisíveis?”, os verdadeiros sacerdotes do conhecimento, os paladinos do talento nacional. Os que fazem arte através de histórias peculiares, motivados única e exclusivamente pela força dos sonhos, por uma ideologia natural, empírica, essencial, absolutamente desprovida de interesses. Micro células de um corpo folclórico habitado pelo espirito das tradições. Os pilares de nossa construção artística, brotados do mais profundo solo. Os que tecem o gigantesco mosaico da cultura nacional. Os mantenedores e propagadores do nosso legado de costumes e diversidade de saberes. Peças não aproveitadas por uma engrenagem de complexa sistematização, secularmente tolhidos e subjugados pela insigne parcela dos que detêm o monopólio mercantilista da nossa cultura. Os excluídos pelos editais de políticas públicas e pelos incentivos dos setores privados. Que, ironicamente, melhor representam nosso espírito, nosso orgulho, nossa brasilidade continental. Cujas ausências criam uma enorme clareira em nosso ambiente cultural. Lamentavelmente, o Brasil perde muito com o ostracismo de seus principais personagens, com o não aproveitamento de suas habilidades, suas ciências, com a falta de registro documental de suas memórias.
Um acervo cultural incalculável deixa de ser construído pela falta de mecanismos que absorvam e escoem essa valiosa massa que fundamenta a cultura popular brasileira. Para que muitos desses elementos não morressem no mais absoluto anonimato e para que suas histórias não fossem enterradas tão profunda mente, que nem os maiores arqueólogos e pesquisadores do futuro pudessem reencontrar seus vestígios, fiz da minha vida uma saga desesperadora em busca do registro de sua oralidade quase extinta. Re corri à literatura e, posteriormente, ao cinema, arte na qual tornei-me bacharel e que permitiu-me criar livros e dirigir filmes com a pretensão de corrigir injustiças, identificando e trazendo à tona uma multidão de seres populares com suas histórias e obras que o Brasil e o mundo até então desconheciam. Iniciando os primeiros esboços de um diálogo que pretendo avançar por todas as esferas da nossa sociedade, através de diversas modalidades artísticas. Essa é a ponta de um gigantesco iceberg submerso. É o surgimento de possibilidades não utópicas de dar voz aos que nunca tiveram vez. Uma interlocução da qual todos nós devemos participar, como num grande pacto pela implosão dos labirintos aristocráticos e a construção de um amplo caminho em prol da real democracia cultural brasileira. Creio definitivamente que essa “é a parte que nos cabe nesse latifúndio”.